Vi um menino que corria a toda velocidade em sua
bicicleta, com um sorriso largo no rosto, devido a felicidade que sentia ao
estar em sua bicicleta nova, e ele ia a toda velocidade para chegar a tempo na
aula de artes, a aula que mais gostava, aonde podia usar sua criatividade,
imaginar e desenhar um mundo novo onde todas as crianças poderiam ter a sua
própria bicicleta; ele ia passando pela rua pensando naquela aula de artes,
pensando se teria tempo para passar na biblioteca mais tarde, ele precisava estar
lá todos os dias se possível, nada o nutria mais do que ter um livro em mãos,
livros que o estruturavam, que o faziam encontrar-se com coisas maravilhosas,
aquele menino se sentia completo a cada história lida.
No final de cada
dia daquela criança sua mãe sempre o esperava, principalmente naquele tempo
frio, para tomar sopa com a família, aquela sopa quentinha, a melhor do mundo
na opinião dele. E na hora de ir dormir então? Ah! Não tinha nada melhor para
ele do que ouvir sua mãe contar-lhe histórias até que pegasse no sono e sonhava
ser sempre o protagonista da história que havia sido contada; estar vestido com
seu moletom favorito, estar coberto e se sentindo quente nesta época de frio, o
que mais poderia querer uma criança? Sorri feliz, mas então abri os olhos e
voltei a olhar para aquele menino vendendo bala no farol, vi que ele não tinha
aquela vida que eu imaginei ter uma criança, que toda criança merece! Não havia
uma bicicleta, ele não tinha um moletom naquele frio, quem me garante que ele
tinha a oportunidade de ter um livro em mãos? Ele estava ali vendendo balas na
tentativa de sobreviver, quem sabe há quanto tempo ele não comprava comida?
Fiquei ali parada, deixando uma lagrima escorrer no rosto. Temi pelo futuro
daquele menino. Ele parou ao lado da janela no meu carro: — Me ajuda tia, dá um real?, e claro eu de
prontidão peguei tudo o que eu tinha na carteira e dei para ele, não achei errado, seria errado
querer que uma criança tivesse o que comer? Ele e ele já ia se virando para seguir seu
caminho, que ainda seria árduo, gritei para que ele esperasse, tirei minha
jaqueta e lhe estendi. —Pra que isso tia?. —É bom não sentir frio, e sorri para ele, que
agradeceu e saiu correndo, gritando obrigado. O farol abriu, levei alguns segundos
a mais para seguir em frente, enfim continuei. Quando estava no cruzamento, vi
o farol de um carro, senti o choque dos pedaços de vidro que me cortavam, só vi
a luz a frente, senti a dor do acidente. Agora ... não lembro quem sou, não sei
se sobreviverei, mas lembro que tive tempo de ajudar um menino que só quer um
futuro, lembrei do sorriso, do brilho no olhar daquela criança; o menino do
farol, sorri ao pensamento, ah! Eu queria saber seu nome... Senti meus olhos
fecharem e só tive tempo de pensar que pelo menos hoje, ele terá um dia a menos
para sentir fome e frio... sorri... Mas e amanhã? Será que alguém poderia parar
cinco minutos para ajudar aquele menino? ... Respirei com dor e tudo ficou
escuro.
Escrito por: Karina A. da Silva Souza
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